quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eta Carinae e Orion com um ED 80mm e uma Canon Rebel XS da varanda do apartamento

Eta Carinae foi processada um pouco além da conta, mas o resultado, para o foto urbana, ficou bem interessante.

Esses dias o Fabrício Siqueira, astrofotógrafo brasileiro bastante conhecido no meio, veio aqui em casa com um ED de 80mm da Orion. O Fabrício, que antes tinha um refletor de 150mm da Sky-Watcher sobre uma Eq-3 motorizada está renovando o seu setup e começou pelo telescópio, aproveitando uma boa promoção no Armazém do Telescopio. Ele ainda não tem uma montagem para o aparelho e por isso trouxe o refrator aqui pra casa para testarmos a sua qualidade ótica sobre a minha montagem CG-5GT.

A câmera usada também foi do Fabrício, uma Canon Rebel XS 1000D não modificada. Assim, minha participação esteve em controlar a montagem, principalmente no alinhamento. Achei uma pena que sem auto-guiagem tenhamos conseguido apenas 40 segundos de exposição com o telescópio do Fabrício, sendo que na lente 135mm no dia anterior eu estava conseguindo até três minutos de exposição com a montagem na mesma posição. Talvez isso mostre como o alinhamento é mais fácil com lentes.

Eu disse várias vezes ao Fabrício que, se fosse hoje, teria comprado este refrator de 80mm e não o meu atual de 102mm. Sendo muito mais leve que o meu telescópio atual o ED de 80mm parece estar muito mais de acordo com a capacidade da CG-5GT para fotografia em alta exposição do que o meu refrator de 102mm, que com duas câmeras e um segundo telescópio para autoguiagem parece levar a montagem ao seu limite para um acompanhamento com qualidade. Vale dizer que hoje o Orion Premium ED 102mm não está mais no mercado. Me pergunto se um problema crônico apresentado no focalizador não teria sido um dos responsáveis por isso. Quando eu rodo as engrenagens do focalizador, preciso ajudar um pouco com a outra mão puxando ou empurrando o barril.

Devido a poluição luminosa  sobre o meu apartamento, optamos por alvos mais simples de serem encontrados, e também mais brilhantes: Eta Carinae e M42. A segunda nebulosa estava demasiadamente perto da Lua com metade do disco iluminado, por isso está foto acabou sendo mais prejudicada. Eu também não pude usar dark frames para calibrar as fotos, pois o Fabrício teve que ir embora antes que pudesse fazê-los aqui em casa. Sem acesso a estes darks e como a minha câmera DSLR é diferente da Rebel XS, eu acabei empilhando as imagens sem esses darks mesmo, mas usei alguns flats feitos pelo Fabrício, que ficaram muito bons, diga-se de passagem. Quase não vi vinhetagem nas imagens.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Prawn Nebula - Juntando o H-Alpha da Atik 314L com o RGB da Canon T2i

Clique na imagem para ver em tamanho maior

Depois de mais de mês de céus nublados em Brasília, parece que São Pedro resolveu definitivamente colaborar com os astrônomos e neste final de semana tivemos mais algumas noites de céu limpo. Eu não poderia perder a oportunidade de mais algumas fotos, principalmente por que ainda estou tentando me entender com a lente Canon 135mm F2.0, chegando até mesmo a cogitar a sua venda.

 O grande problema dessa época do ano pra mim é que depois que as últimas nebulosas do chamado braço de Orion somem atrás da parede do meu apartamento, que é apontado para o leste, eu tenho que esperar o surgimento do braço de sagitário, onde estão muitas nebulosas legais para serem fotografadas em Orion. então tive que esperar até às quatro da manhã para tentar uma imagem da Nebulosa IC 4628 (Prawn Nebula) em H-alpha.

algo muito legal é que consegui um alinhamento que me garante 3 minutos de exposição, do meu apartamento. Isso acontece por que conheço muito bem o local e as pastilhas da piscina, onde fica o setup, ajudam a marcar a posição correta.

os halos nas estrelas continuam incomodando, mas já bem menos. Eu ainda quero captar a linha de emissão do enxofre e do oxigênio da nebulosa para produzir uma imagem em Hubble Palette. Enquanto não faço isso, juntei a imagem em H-alpha com uma da mesma nebulosa que fiz em setembro de 2012 com a Canon T2i e outra lente de 135mm. Assim, consegui aproveitar as cores da imagem com a Canon T2i, que fez o papel de RGB, com os detalhes da imagem com a Atik 314L, que fez o papel de Luminance.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Primeiras imagens com a Canon 135mm F2.0

Roseta com a lente de 135mm em cores mapeadas (H-Aplpha, OIII e SII), infelizmente Halos nas estrelas prejudicaram a foto.

Após muitas e muitas semanas de céu nublado e chuvas aqui em Brasília, neste Carnaval o tempo finalmente abriu e pude estrear a Lente Canon 135mm F2.0, pela qual gastei uma fortuna, em astrofotografia. Foi uma estreia complicada. Em muitos aspectos fiquei até com saudades da Takumar de 135mm que já está sendo vendida. A Canon tem o foco muito mais difícil, e como vocês podem ver na imagem acima, se não for feito com exatidão, gerá incômodos halos em volta das estrelas. Apesar dessa dificuldade, devo dizer que fora os halos fiquei muito contente com a qualidade da imagem acima, da Nebulosa da Roseta, que fica próxima a constelação de Orion.

Por falar em Orion, também fiz uma imagem da Nebulosa de Orion (M42), que vocês podem ver abaixo. Repare que os halos aparecem aqui também. Outra falha na imagem é que não consegui não estourar o núcleo na Nebulosa. Eu até fiz frames de cinco segundos (também deveria ter feito de um segundo), mas o Deep Sky Stacker não conseguiu empilhá-los.

De Orion eu só consegui capturar o H-Alpha


Se eu conseguir resolver o problema dos halos, imagino que vou conseguir fotos bem legais no futuro com esta lente, as Nebulosas América do Norte e Pelicano deverão ficar lindas com esta técnica. O maior problema do foco é que o programa que vem com a Atik 314L não mostra uma imagem com muita qualidade e a verdade é que às vezes não sei muito bem o quo está acontecendo. O jeito foi passar a noite de hoje treinando até encontrar o ponto certo e espero que nas próximas fotos, esta falha diminua.

As duas imagens foram feitas com frames de 90 segundos, em dias diferentes. Em relação a nebulosa da Roseta, algo que me deixou triste é que antes de dormir resolvi testar quanto tempo o alinhamento aguentava e descobri que se tivesse feito frames com três minutos de exposição as estrelas ficariam redondas. Foi uma lição aprendida, sempre verifique até onde seu alinhamento está mantendo as estrelas redondas antes de fotografar, não faça como alguns que resolvem fazer isso depois que a noite acabou, rssss.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Apresentação minha e do Fábio Plocos na Campus Party 2013

Finalmente chegou o dia da minha primeira palestra sobre astrofotografia. Aconteceu na Campus Party 2013 em São Paulo e o vídeo já está no canal do evento no Youtube.

Foi uma experiência muito legal. Eu estava muito nervoso, mas no fim acho que consegui não falar muita bobagem e foi uma palestra construtiva. A minha parte começa aos quarenta minutos, mas recomendo muito assistirem o vídeo inteiro, com a parte do Plocos, afinal, a palestra dele na Campus Party 2010, junto com a do Diniz, foram de grande importância para o meu início em astrofotografia.

Abaixo vocês podem curtir a palestra na íntegra.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Coisas que você deve saber antes de adquirir uma lente para astrofotografia

Quem tem acompanhado o meu blog este ano deve ter percebido que, para astrofotografia de céu profundo, é cada vez maior a minha predileção por lentes. Isto ocorre por vários motivos, lentes são mais leves, mais rápidas e mais versáteis do que telescópios. Geralmente aumentam menos, mas para céu profundo isso muitas vezes é mais uma vantagem do que uma desvantagem, pois muitos objetos deste tipo precisam de um grande campo para serem captados de forma adequada. É claro que com maiores aumentos você conseguirá registrar mais detalhes de objetos de campo aparente pequenos, como galáxias mais distantes e nebulosas planetárias. Estes objetos são mais indicadas de serem fotografados com um telescópio de 1000mm de distância focal ou mais. Entretanto, com um instrumento destes você não conseguirá, por exemplo, capturar a Nebulosa América do Norte ou o complexo Rho-Ophiuchi em todo sem esplendor.

Este ano eu descobri uma série de coisas sobre lentes que a gente deve pensar antes de adquirir uma. Um pouco deste aprendizado foi na base de erros, mas muito foi através da ajuda de amigos e ampla pesquisa na internet.

Veja abaixo algumas coisas que aprendi, e que se deve levar em consideração antes de adquirir uma lente para astrofotografia.

- Distância Focal indica o aumento de uma lente.

Lentes não diferem nada de telescópios em muitas características, até por que telescópios refratores nada mais são do que lentes em que você pode colocar uma ocular (da mesma forma que lentes também podem ser consideradas como telescópios adaptados a sensores). Em telescópios abertura é a primeira característica a ser apontada, depois vem a distância focal. Meu telescópio é um Refrator de 102mm de abertura com distância focal 710mm. Se fosse uma lente ele seria classificado como uma lente de 710mm F7.1 (onde o F seria a abertura). Note também que em lentes normalmente a abertura é dada pela relação entre a distância focal e o diâmetro da objetiva, o que em telescópios costumamos chamar simplesmente de relação distância focal/abertura (o que pra mim está mais correto).

Quanto maior a distância focal de uma lente, maior será o aumento proporcionado por ela. Uma lente de 100mm dará um aumento duas vezes maior do que uma lente de 50mm, mas também mostrará uma área menor do céu. Vale lembrar que como aumentos são uma relação unidimensional (uma bola de 2 metros de diâmetro é considerada duas vezes maior do que uma bola de 1 metro de diâmetro) e a área é uma relação bidimensional, ou quadrada, um aumento duas vezes maior proporcionará a captação de uma área quatro vezes menor do céu.

Duas imagens captadas com distâncias focais diferentes. A da direita foi captada com o dobro da distância focal. É possível admirar melhor detalhes da nebulosa, mas repare que o objeto não coube por inteiro na foto.

Nesta outra imagem acontece justamente o contrário. O objeto alvo ocupa uma área menor do céu, fotografá-lo com uma lente de menor distância focal deixa um grande vazio na imagem, pontilhado por estrelas. Uma maior distância focal nos permite observar com mais detalhes mostrando o objeto por inteiro. 

Lentes fotográficas não são muito indicadas para fotografia de galáxias distantes, nebulosas planetárias ou qualquer outro objeto que ocupe uma área muito pequena do céu (a não ser que você queira justamente mostrar o contexto em que o objeto está inserido ou vários desses objetos ocupando uma área em comum, como ocorre em aglomerados de galáxias). Lentes são mais adequadas para galáxias próximas, como Andrômeda, Triângulo e as Nuvens de Magalhães e, principalmente, para as grandes nebulosas de nossa galáxia, justamente por que dão menos aumentos do que um telescópio. Para mostrar a Via Láctea em si, são a única opção.

Em astrofotografia abertura indica principalmente a velocidade da Lente

Como eu disse acima, abertura, em lentes, na verdade indica a relação entre o diâmetro da objetiva e a distância focal da lente. Em fotografia isso determina a velocidade da lente, sendo uma informação de extrema importância para astrofotografia. Normalmente quanto maior a abertura, maior a velocidade numa proporção ao quadrado, já que o dobro do diâmetro da objetiva quer dizer que ela tem quatro vezes mais área de absorção de luz. Note, que como a abertura é definida pela  distância focal dividida pelo diâmetro da objetiva, quanto menor for o F, maior será a abertura. Por isso uma lente F/2.0 tem abertura maior do que uma lente F/4.0. É também normalmente mais cara, e devido ao tamanho da objetiva, normalmente também é mais pesada. Vale lembrar que uma lente F/2.0 capta, em um minuto de exposição, o que uma lente F/4.0 leva quatro minutos para captar. Você pode conseguir com a lente F/2.0 em apenas duas horas de exposições o que levaria oito horas para conseguir com uma F/4.0, com frames mais curtos e o telescópio bem alinhado, pode chegar a dispensar autoguiagem, uma das maiores dores de cabeça da astrofotografia (pelo menos pra mim).

Acima, vemos duas lentes de mesma distância focal (200mm), mas com aberturas diferentes, sendo que a da direita é F/2.0 e a da esquerda é F/4.0. Se fossem telescópios a lente F/2.0 seria considerada um telescópio de 100mm de abertura e 200mm de distância focal, e a F/4.0 seria um telescópio de 50mm de abertura com os mesmos 200mm de distância focal. 

Resumindo, lentes com maior abertura são muito melhores do que as de menor abertura (mas lembre-se que também podem ser bem mais pesadas e caras).

Nem sempre uma lente trabalha bem na sua maior abertura.

Uma das coisas legais em lentes, é que você pode regular a abertura dela. Você pode configurar uma lente de abertura F/2.0 para vários números abaixo de F/2.0, como F/4.0 ou F/8.0. Em fotografia convencional isso é muito usado principalmente para regular a profundidade de campo. Quando vemos uma foto de uma pessoa em que o fundo está todo desfocado, normalmente estamos vendo uma foto em que a lente está bem aberta, quando a mesma pessoa está sobre o mesmo fundo, mas este também está com foco, é por que a lente está mais fechada. Normalmente essa regulagem da abertura é feita fechando-se o diafragma da lente, que torna a passagem de luz mais estreita. Isso deixa a lente mais escura e por isso mais lenta, o que pode parecer ruim em Astrofotografia e, sim, é ruim mesmo. O problema é que muitas lentes, principalmente as mais baratas, como a 50mm F1.8 da Canon, não apresentam bons resultados na sua abertura máxima, gerando aberrações e coma. A minha 50mm F/1.8 só fica razoavelmente aceitável em aberturas acima de F/3.0, e só em F/4.0 a imagem fica perfeita. Já a Takumar 135mm não mostrou muita diferença ao se fechar o diafragma, o que é um bom sinal.

Na verdade, quanto menos você tiver que fechar o diafragma para se ter uma imagem perfeita, melhor é a lente para astrofotografia. Se a lente só apresenta uma boa imagem com aberturas abaixo de F/4.0 você precisa de tempos maiores de exposição e um melhor alinhamento eliminando uma das maiores vantagens das lentes.

A abertura em que a lente apresenta seus melhores resultados não costuma vir na especificação dela, normalmente este tipo de informação aparece em reviews destes equipamentos. Sempre que estiver interessado em uma lente procure por reviews dela antes de comprar. Prefira reviews de grandes sites especializados. Sites de blogueiros, como este aqui, podem ser enviesados pelo fato de que muitas pessoas, ao gastarem uma boa grana com equipamentos tendem a terem maiores dificuldades para aceitar que não compraram um produto bom, principalmente se foi algo caro em relação a seus rendimentos.

Uma boa lente pode ser mais cara do que um bom telescópio.

Algo que não se pode dizer sobre lentes é que elas sejam mais baratas do que telescópios. Um bom telescópio refrator apocromático de 80mm custa em média 800 dólares, uma Canon 135mm L F/2.0 custa mais de mil dólares. Então boas lentes novas não são baratas, são tão caras ou mesmo mais do que bons telescópios. Tem as vantagens de serem mais rápidas e mais leves e terem maior campo. Mas tem menor aumento e não se pode usá-las para observações (embora acho que existam adaptadores que permitam isso). São vários fatores que se devem pesar antes de se escolher uma lente. Para ver planetas e traços da superfície Lunar, por exemplo, vocês podem descartá-las por completo.

Lentes antigas podem ser uma boa opção, mas exigem ampla pesquisa

Apesar de lentes serem caras, uma excelente opção para baratear seus custos é adquirir uma lente antiga. Existem inúmeros modelos de lentes fabricadas há vinte ou trinta anos atrás, que, com os adaptadores certos podem encaixar em sua câmera. Se a ótica não tiver marcas, riscos ou fungos elas serão quase tão boas quanto as lentes novas. Muitos fotógrafos cuidam muito bem de suas lentes, permitindo que elas, apesar de terem muitas décadas de idade, estejam em perfeitas condições. No mercado livre é possível encontrar boas lentes antigas por preços entre 300 e 700 reais. No Ebay é possível encontrar boas opões entre 50 e 500 dólares.

Comprar coisas usadas e antigas sempre trará riscos. Pode ser uma economia enorme ou dinheiro jogado fora. Antes de se comprar uma lente antiga, faça toda a pesquisa possível, mostre o link dela para todos os amigos que conhece que entendam do assunto e pergunte se eles sabem algo sobre o modelo e qual a opinião que têm sobre o assunto, também pesquise e consulte o vendedor sobre qual adaptador será necessário para a sua câmera. Pergunte também se o adaptador necessário terá que possuir algum elemento ótico. Caso a resposta seja sim, fuja desta lente. Estes adaptadores são produzidos por empresas genéricas, não pelo fabricante da lente e normalmente trazer resultados insatisfatórios.

Ao se pesquisar sobre lentes antigas você vai descobrir coisa engraçadas, como por exemplo: Lentes antigas da Canon não se adaptam bem às câmeras atuais da Canon, mas as lentes da Nikon sim, que não se adaptam bem a lentes da Nikon. Em geral o grande problema é o foco no infinito, necessário para astrofotografia, que muitas vezes fica para dentro da câmera nova do fabricante, algo que só pode ser resolvido com adaptadores óticos, que como dito no parágrafo anterior, não são recomendados.

Adquirir lentes para astrofotografia não é fácil. Acho até mais complicado do que escolher um bom telescópio, por isso, se você está procurando uma luz sobre o assunto, espero que este post tenha ajudado um pouco.