segunda-feira, 18 de março de 2013

Fim de semana em preto-e-branco, mas com qualidade!

NGC 6188, bela nebulosa próximo ao asterismo da constelação de Escorpião. Reparem na supernova na parte inferior esquerda da foto.

É com muita alegria que digo que este último fim de semana não passou em branco em astrofotografia, passou em preto e branco, com boas fotos em H-Alpha. Na noite de Sábado para Domingo algumas nuvens chegaram a querer incomodar, mas deu pra brincar bastante com a Atik 314L+, a Canon 135mm F2.0 e o filtro H-Alpha 7.5nm.

Primeiro, vamos falar dos problemas: a Atik estava esquisita, não estava estabilizando a temperatura, embora raramente passasse de um grau acima da temperatura programada. Eu até coloquei o vidro de vedação de volta, mas não adiantou. Desconfiei da qualidade da alimentação elétrica do meu apartamento e conectei ela no Powertank (uma bateria feita para telescópios), mas não fez diferença. Também quando eu fazia frames curtos notei um ruído estranho, que desaparecia em frames mais longos. Esses problemas não pareceram afetar a imagem final, mas é bom eu ficar de olho.

Em relação a lente, estou alegre de ver que os halos, que tanto me atormentaram nos primeiros dias, praticamente desapareceram, mas noto que mesmo em F/2.5, ela apresenta coma, algo que, no nível em que pretendo fotografar, não é aceitável, por isso acho que terei que fechar ainda mais a lente. Espero que eu não tenha que passar de algo como F/3.0, se não vai ficar complicado, pois a captação vai ficar muito lenta acima disso. Só pra vocês terem ideia F/3.0 é 125% mais lento que F/2.0 e 44% mais lento do que os F/2.5 que usei nas imagens de hoje.

Bem mais brilhante, não foi preciso mais do que dois minutos para tirar muitos detalhes de Eta Carinae
A boa notícia é que estou conseguindo fazer frames de até 5 cinco minutos com o setup sobre a CG-5GT e acho que ainda posso conseguir mais. Algo em torno de 6 a 10 minutos. Com um tempo de exposição assim, fotografar com a lente em F/3.0 seria totalmente aceitável.

Os Alvos da noite foram duas grandes Nebulosas, cujo tamanho aparente se mostrou no limite do campo de  enquadramento da Atik 314L em 135mm, que não é pequeno. A primeira, fotografada entre as oito e nove da noite de sábado, foi a Nebulosa de Carina (que eu costumo chamar de Eta Carinae, o que não é a mesma coisa, rss). Essa Nebulosa é muito brilhante, por isso eu não precisei de mais do que dois minutos de exposição em cada um dos 27 frames.

Fiz questão de enquadrar a nebulosa Gabriela Mistral na imagem. Trata-se da nebulosa que você vê abaixo, na parte superior direita, repare que parece com o perfil desta senhora, agraciada com o Nobel de Literatura de 1945. A dica da nebulosa foi do Astrofotógrafo Gerson Pinto, que publicou uma foto da mesma nebulosa.

Nebulosa Gabriela Mistral, na verdade um pedaço meio desgarrado da Nebulosa de Carina, cuja forma parece o rosto desta escritora visto de perfil

Mas, apesar de não estar perfeita por causa do coma, não há dúvidas de que a grande imagem do fim de semana é a que aparece no topo deste post, da Nebulosa NGC 6188, na constelação de Ara, primeiro por que eu devo ser um dos primeiros a fotografá-la no Brasil e segundo que, com duas horas de exposição, tirar um foto destas de um apartamento no meio de Brasília e uma alegria enorme, mostrando que, com um bom filtro H-alpha, não há limites para o que posso fotografar, em termos de nebulosas, da varanda do meu apartamento. Vale lembrar que, para conseguir a imagem colorida, será necessário mais 4 horas de exposição, totalizando 6 horas. Eu vou ter que ter muita paciência para terminar esta foto e as outras duas últimas da qual captei o H-Alpha (Carina e aquela com a Pata do Gato e Lagosta).

É isso aí pessoal, até os próximos posts!

domingo, 10 de março de 2013

Nebulosas Pata do Gato e Lagosta, finalmente sem os enormes halos

NGCs 6334 e 6357. O filtro H-alpha realmente ignora a poluição luminosa de Brasília.

Após três semanas de muitas chuvas aqui em Brasília, finalmente o tempo resolveu me dar uma colher de chá, embora nem de longe tenha sido o ideal. Na madrugada de sexta para sábado, depois das duas da manhã, o céu abriu um pouco e eu pude tentar mais uma imagem com a Canon 135mm F2.0, com o objetivo principal de fazer desaparecer os halos nas estrelas, tão marcantes nas últimas fotos e que quase me fizeram desistir dessa lente.

Para diminuir os halos, dois procedimentos foram feitos, primeiro e, provavelmente mais importante, eu mudei a posição do filtro H-Alpha usado para fazer a imagem. Antes este filtro estava quase dois centímetros a frente do sensor. Se pensarmos que o diâmetro da objetiva é a metade da distância focal, fica fácil imaginar que se tivéssemos um telescópio com 1350mm de distância focal e 720 de abertura (imaginem como seria grosso o tubo deste telescópio), teríamos um filtro 20 centímetros a frente do sensor da câmera.

Para resolver a situação tive que colocar o filtro não acoplado a frente do adaptador da Geoptiks, como estava antes, mas o mais perto possível do sensor da Atik 314L+. Eu tirei o vidro que fica a frente do sensor da Atik, que serve para vedar o sensor e manter a temperatura, e troquei pelo próprio filtro que, agora, além de fazer a função de filtro, também faz a vedação do sensor. Diga-se de passagem a vedação ficou muito boa e o sensor ficou estabilizado em 2 graus centígrados sem problemas.

Dessa vez também fechei um pouco o diafragma da Canon 135mm F2.0 Fechei apenas dois pontos que mudaram a relação abertura/distância focal para F2.5. Eu não sou fã de fechar o diafragma. Melhora um pouco a imagem final, mas também aumenta o tempo de exposição. No caso a mudança de F2.0 para F2.5 incorre na necessidade de um tempo 56% maior para se conseguir o mesmo resultado. Isso deixou a Canon F2.0 com a mesma velocidade da Takumar F2.5 que vendi recentemente e ainda deu às estrelas mais brilhantes um aspecto de mamona, devido a luz que vaza pelo diafragma. Apesar destes problemas, a maior relação abertura/distância focal também significa maior profundidade de campo, o que resulta num foco razoavelmente mais fácil do que em F2.0.

Eu queria ter aproveitado o sábado para ter capturado frames com os filtros OIII e SII, mas infelizmente o tempo não colaborou. O céu estava mais para nublado do que embaçado e vou ter que esperar a próxima semana para tentar uma imagem colorida.

Abaixo, deixo uma comparação interessante. Ambas as imagem foram feitas por lentes de 135mm e em F2.5. A primeira com a Canon F2.0 e a segunda com uma Nikkor F2.5. A grande diferença é que enquanto a primeira foi feita com uma CCD Monocromática e um Filtro H-Alpha de 7,5nm a segunda foi feita com uma Canon T2i modificada. Nessa imagem podemos ver como o novo setup é eficiente. E a primeira foto foi feita com condições terríveis de poluição luminosa e nebulosidade no ar (mal estava dando para ver a constelação de escorpião).