domingo, 19 de junho de 2016

Testando uma ASI174mm-cool


Mas como seria bom se eu pudesse testar uma dessas câmeras, não seria? O legal é que eu testei. Semana passada um amigo me emprestou uma ASI174, a câmera com o segundo maior sensor da nova série da ZWO, menor somente que o da recém-lançada ASI1600. O modelo testado foi uma ASI174mm-cool, ou seja, a versão monocromática e resfriada.

A ASI174 tem um considerável sensor de 1/1.2 polegadas, mas tem pixels grandes, de 5.86um, o que não lhe dá uma resolução das maiores, são 2.3 megapixels. É uma câmera com sensor e resolução um pouco maior do que minha CCD ATIK 314L+, que tem sensor de 1/1.5 polegadas e resolução de 1,3 megapixels. Os pixels da ASI174, entretanto, são um pouco menores. Os da Atik 314 tem 6.45um.

Como você viu no post anterior, segundo o site da Sony, o sensor IMX174 da ASI174 tem praticamente o mesmo nível de ruído do sensor da Atik 314L, mas é um pouco menos sensível do que o da CCD. Entretanto, por ser uma CMOS, a ASI174mm permite aumento do ganho, o que, apesar do ruído a mais, pode deixar a câmera da ZWO mais sensível do que a da ATIK, tendo que compensar, é claro, com mais frames.

Para fotografar céu profundo com estas novas câmeras da ZWO, o ideal é usar um software especializado em céu profundo, como o MaximDL ou o Nebulosity. Como não tinha nenhum dos dois, adquiri o Nebulosity 4, que reconhece estas novas câmeras automaticamente (depois da instalação dos drivers, é claro). Eu devo passar a usar este software também com a Atik 314L, embora tenha visto algumas desvantagens em relação ao Artemis, software proprietário da Atik. Mas talvez seja falta de conhecimento meu em relação ao Nebulosity.

Devido à poluição luminosa da região onde moro, uma das mais densamente povoadas de Brasília, resolvi fazer uma captura em banda estreita. O objeto escolhido foi a Nebulosa da Lagoa, uma das nebulosas mais brilhantes desta época do ano. O telescópio usado foi o refrator ED de 102mm, que me acompanha desde o começo da Astrofotografia. Optei por ele e não o Refletor de 200mm por ser mais fácil de usar (Estou decidido a parar de usar o refletor de 200mm sobre a HEQ5 para céu profundo, devido à enorme dor de cabeça que é usar este telescópio grande sobre uma montagem mais frágil para este tipo de fotografia). O ED também tem uma razão focal maior, F7, e achei que seria interessante testar a ASI174 nesta condição de menor absorção de luz.




Frame único de três minutos da nebulosa da Lagoa, com o ganho da ASI174mm-cool em 100 (vai até 400) e o sensor resfriado a -10 graus.

O primeiro light frame da Nebulosa da Lagoa, capturando o H-alpha com 3 minutos de exposição, me impressionou pelos detalhes da nebulosa, mas percebi dois problemas. Primeiro, um forte clareamento da borda inferior direita da imagem. A câmera não tem culpa alguma por esse defeito no lightframe. Ele ocorreu por vazamento de luz na minha roda do filtros manual, que é aberta no dispositivo que permite a troca dos filtros. Apesar de ser feio na foto, este não é um problema de difícil solução. Basta fazer darkframes, que esse vazamento de luz vai aparecer nos darks e portanto será subtraído totalmente da imagem final. É importante, é claro, que sejam feitos sobre as mesmas condições de iluminação. Ou seja, eu não posso acender a luz durante os darks.

Dark frame da ASI174. Vazamento de luz na minha roda de filtros deixou um clarão no canto inferior direito.


Já o outro problema percebido não foi culpa da roda de filtros. São linhas horizontais que percorrem toda a imagem. Eu nunca tinha visto isso e tive que consultar os universitários num grupo de astrofotógrafos no Whatsapp. Lá fiquei sabendo que é algo comum em sensores do tipo CMOS, pela forma como eles carregam as imagens. A melhor solução seria fazer muitos bias, fotos feitas com o telescópio tampado e o mínimo tempo de exposição do sensor. Eu fiz 100.

Bias mostram linhas horizontais, características de muitos sensores CMOS, devido a forma como carregam os frames


Com 20 light frames do filtro H-alpha, e 7 das outras duas cores do Hubble Palette (OIII e SII), integrei a imagem no Deep Sky Stacker, com mais 10 dark frames e os bias. O resultado, após composição no Fitswork, wavelets no Registax e balanço de cores no Adobe PhotoShop, você vê na imagem abaixo. Só uma pequena observação: eu devia parar de usar os Wavelets do Registax, pela forma como eles deixam as estrelas gordas, mas ainda sou seduzido pelo modo como realçam os detalhes, aumentando a nitidez.



Repare como os dark frames fizeram desaparecer completamente o clareamento do canto inferior direito e os bias ajudaram a quase eliminar as linhas horizontais, que ainda podem ser vistos quando se examina a imagem com mais atenção.

O resultado final foi considerado bastante satisfatório. Acredito que ficou um pouco abaixo do que a Atik 314L+ é capaz. Eu fiz uma imagem com a CCD com o mesmo telescópio dois anos atrás que claramente apresenta detalhes superiores. Conta a favor da imagem da CCD que os frames foram mais longos, com 5 minutos, mas a guiagem estava bem pior e as cores não foram do telescópio e sim de uma imagem com lente de 135mm. Clique aqui para ver a imagem.

É importante dizer que a ASI174 está deixando de ser fabricada. Ela está sendo substituída pela ASI1600, que tem um sensor maior, menos ruído e parece ter menos problemas com as linhas horizontais. Talvez eu consiga testar uma ASI1600 no EBA, que acontece em duas semanas.

A minha impressão sobre estas novas câmeras astronômicas com sensor CMOS é a seguinte: para quem tem um bom CCD, como um com o sensor KAF8300, a troca por estas câmeras não irá acrescentar nada, mas para quem gostaria de dar um passo à frente em relação às DSLRs, é uma excelente opção. Eu não tenho intenção de trocar minha Atik 314L+ por uma dessas câmeras. Mas se minha Atik, por algum motivo, estragar, é muito provável que eu adquira uma ASI1600, pelo baixo custo.


Eu também usei a câmera com o telescópio refletor de 200mm, mas neste caso limitei-me a imagens lunares e planetárias. Deixo abaixo algumas imagens feitas da Lua e uma de Marte com a ASI174mm.

Região em volta da cratera Platão, o que mais gostei desta foto foi a parte da borda, no alto da imagem.



Cratera Copernicus e as consequências de seu impacto, em volta.
No alto da imagem, com uma bela montanha no centro, a Cratera Pitágoras.
Marte, já começando a se afastar da Terra.

A ASI174mm, fotografando a Lua e Marte no Refletor de 200mm, com o Extensor 5x e roda de filtros manual.

2 comentários:

Eu tenho me esforçado para responder todos os comentários, mas posso demorar um pouco, ou mesmo esquecer algum. Por isso, peço paciência e não fiquem constrangidos de me darem um toque, caso eu esteja demorando demais.