sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A espetacular nebulosa do Camarão - Entendendo um pouco das minhas capturas em Hubble Palette

H-alpha 11x10min
SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada.
Câmera: Atik 314L+
Montagem: Sky-Watcher HEQ5
Telescópio: Orion ED 102mm F7

A nebulosa do Camarão (IC4628) é com certeza um dos objetos que mais fotografei. Fácil de encontrar, numa região com grande densidade de estrelas na Constelação do Escorpião e de visual espetacular, seja com lente, telescópio, DSLR ou filtros de banda estreita, esta nebulosa é sempre um objeto que acaba me atraindo.

No último EBA fiz a imagem acima. Ela é uma composição em Hubble Palette produzida com filtros de banda estreita. Ou seja, as cores não são as verdadeiras do objeto, que, como toda nebulosa de emissão, seria majoritariamente vermelho. A composição Hubble Palette, famosa por ser utilizada em muitas imagens do Telescópio Hubble, usa os filtros de banda estreita de Hidrogênio, Enxofre e Oxigênio para produzir uma imagem com grande contraste e profundidade. Há quem goste e quem não goste deste tipo de imagem. Eu me desenvolvi muito nessa técnica por fotografar primariamente de uma área com grande poluição luminosa. Os filtros de banda estreita são de longe os mais capazes de retirar poluição luminosa de capturas astrofotográficas, embora estejam limitados às nebulosas de emissão, como a Nebulosa da Lagoa, da Águia, da Carina e, é claro, do Camarão. Estes filtros devem ser usados com câmeras monocromáticas. Em câmeras coloridas, apresentam um nível de ruído que pode exigir uma captura muito mais longa.

Os dados da captura aparecem logo abaixo da foto, mas para quem não compreende a forma como eu coloco a informação da captura, seguem algumas explicações:

H-alpha 11x10min = Quer dizer que fiz onze frames de dez minutos usando o filtro H-alpha. No caso, usei um filtro H-alpha da Orion de 7nm. Ele também foi usado como luminance. Ou seja, todos os detalhes que você vê da imagem são da captura em H-alpha. Se você converter a imagem acima para uma imagem monocromática, o resultado final será idêntico a captura em H-alpha.

SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada = aqui estou dizendo que para os outros dois filtros, o de Enxofre (SII) e o de Oxigênio (OIII), ambos de 8nm, da marca Baader, capturei dez frames de 5 minutos com cada filtro. Os frames foram mais curtos porque na captura usei o recurso de Binning em 2x2. Nesta configuração, a câmera transforma cada 4 pixels num único, somando a informação de brilho dos quatro pixels. O resultado é uma imagem mais brilhante, permitindo frames mais curtos. O problema é que o binning diminui a resolução dos frames em quatro vezes. Enquanto os frames da captura em H-Alpha têm resolução HD (1360x1024), os frames dos outros dois filtros tem resolução de 680x512. Mas como estes frames servirão apenas para incluir as cores na imagem final, o resultado será pouco afetado por esta menor resolução.

Cada conjunto de frames capturado num filtro específico é empilhado antes de ser compostos na imagem colorida. No Hubble Palette, o H-alpha é o Luminance e também a cor verde. O enxofre é a cor vermelha e o Oxigênio, a cor azul. Veja abaixo o resultado de cada uma das capturas destes filtros antes da composição na imagem colorida.

Captura na Nebulosa do Camarão com filtro Oxigênio 3 com câmera monocromática Atik 314L+. Integração de 10 frames de 5 minutos em Binning 2x2.
Algo interessante sobre imagens capturadas com o filtro de Oxigênio, é que elas praticamente nos mostram o que conseguiremos ver de uma nebulosa se olharmos através da ocular, num céu muito escuro e com um excelente instrumento. A faixa que o filtro de Oxigênio captura está próximo ao verde, cor que percebemos com mais facilidade.

Captura do filtro de Enxofre, também em 10 frames de 5 minutos em Binning 2x2.

Captura do H-alpha em 11 frames de 10 minutos em Binning 1x1. Repare como o H-alpha registra muito mais detalhes, por isso é também o Luminance da imagem do início do post.


Câmera: Atik 314L+ = Quer dizer que para a foto utilizei minha câmera Atik 314L+. Trata-se de uma câmera dedicada a astrofotografia, com sensor monocromático de resolução 1360x1024 com 2/3 polegadas de diagonal. Câmeras monocromáticas são muito apreciadas em astrofotografia, por apresentarem menos ruído e melhor definição de imagem. Além disso, a Atik 314L+ é uma câmera resfriada, o que permite frames mais longos sem que a câmera apresente muitos hotpixels, além de permitir que eu faça os frames imediatamente um após o o outro, sem necessidade de esperar que o sensor esfrie antes de começar os frames seguintes.

Montagem: Sky-Watcher HEQ5 = aqui estou dizendo que estou utilizando uma montagem HEQ5 da Sky-Watcher. Trata-se de uma montagem robusta, capaz de carregar telescópios médios. Esta montagem tem alguns recursos que a tornam ideal para astrofotografia de céu profundo:
  • Ser equatorial: somente um eixo, alinhado com o polo celeste, precisa estar em movimento durante a captura.
  • Ser motorizada: permite fazer registros de longa exposição dos objetos celestes, que movimentam-se rapidamente no telescópio.
  • Possuir entrada para guiagem: Uma porta na montagem permite acoplar um segundo telescópio com câmera, que irá filmar uma estrela, analisando seu movimento, permitindo que o acompanhamento motorizado da montagem faça correções pontuais durante a captura.

Telescópio: Orion ED 102mm F7: O telescópio usado foi um refrator do tipo ED chamado Orion Premium. Este telescópio tem 102mm de abertura (4 polegadas) e quando dizemos que é um telescópio F7, queremos dizer que a distância focal do telescópio é 7 vezes maior do que sua abertura, ou seja, 710mm. Com duas lentes, sendo uma feita com material especial, que corrige a dispersão da Luz, este telescópio é muito melhor do que um Refrator Acromático comum, em que não há uma lente especial para correção da luz; mas é inferior aos apocromáticos com 3 elementos, que custam em média o dobro do preço do Orion Premium.

O equipamento utilizado para a foto acima. Repare na câmera Atik 314L+ (vermelha), conectada à roda de filtros.


sábado, 10 de setembro de 2016

Sh2-86 - Uma pálida nebulosa que lembra o "Monstro do Lago Ness"

Nebulosa SH2-86, em Hubble Palette


Com certeza não é minha melhor imagem, mas esse objeto, localizado perto da estrela Albireo, é bastante pálido. Por isso, é muito pouco registrado, mesmo estando numa altitude muito boa para astrofotógrafos do Hemisfério Sul. Devo ser um dos primeiros a registrá-lo em banda estreita no Brasil, o que já me deixa muito feliz e já é mais do que motivo para publicá-la.

O grande destaque da imagem é o pilar que aparece no centro. A formação lembra claramente o corpo de um Brontossauro. Acho até que a nebulosa merecia esse apelido. Alguns colegas no EBA comentaram que lembrava o famoso monstro do Lago Ness. Lembram daquela foto famosa do monstro?



A imagem foi feita no Nono Encontro Brasileiro de Astrofotografia, em Padre Bernardo, com telescópio refrator ED de 102mm, câmera monocromática e filtros de banda estreita, por isso, como a maioria de minhas imagens de nebulosas feitas com telescópio, as cores não são as verdadeiras do objeto. Foi aplicado a técnica chamada Hubble Palette.

H-alpha 15x10min
SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada.
Câmera: Atik 314L+
Montagem: Sky-Watcher HEQ5
Telescópio: Orion ED 102mm F7