quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Comparando a QHY163m com a Atik314L+ - Foi a nova câmera um Upgrade relevante?

Ômega Centauri com QHY163m - Tempo total de exposição: 36 minutos - 8 frames de 90 segundos em Bin 2x2 para cada cor.





Ômega Centauri com Atik314L+ - Tempo total de exposição: 2 horas e 40  minutos - 20 frames de 5 minutos de luminância e 4 frames de 5 minutos em Bin 1x1 para cada cor.

Já fazem alguns meses que estou com a minha nova câmera astronômica monocromática QHY163m, que, com seus 16 megapixels de resolução, veio "substituir" a Atik 314L+, com somente 1,3 megapixels, mas que tantas alegrias me deu nos últimos anos. Adquirida no início de maio e recebida no inicio de junho, não usei a QHY163m tanto quanto eu gostaria, mas já posso ter uma boa ideia do desempenho dela em relação à Atik 314L+.

Primeiro, devo dizer algo sobre a Atik 314L+. Se, em termos de resolução, seus 1,3 megapixels deixavam ela atrás das câmeras com sensores maiores, trabalhar com a QHY163m provou que eu estava completamente certo quanto aos motivos que me fizeram adquirir a Atik 314L+ a época. Sim, trabalhar com uma câmera com sensor pequeno como o 2/3 polegadas da Atik 314L+ traz alguns problemas. É mais difícil apontar e enquadrar o objeto, deve-se tomar cuidado principalmente quando se troca de filtros, ainda mais em capturas feitas em mais de uma sessão, para se perder o mínimo de campo possível. Qualquer movimento do telescópio, na hora da troca de filtro, pode incorrer em perda de uma proporção considerável de campo na Atik 314L+. Com a QHY163m é mais fácil achar os objetos e o seu grande sensor de 4/3 polegadas aceita melhor alguma perda de campo.

Mas com um sensor menor, a Atik 314L+ se adaptou imediatamente a todo o meu econômico setup astronômico, sejam os tubos ópticos ou acessórios de 1,25 polegadas. Não houve necessidade de adquirir filtros maiores (e bem mais caros) nem aplanadores ou corretores de coma. Telescópios imperfeitos como os que possuo costumam realçar suas deficiências nas bordas da imagem. No centro, as aberrações são quase imperceptíveis. Poder usar a Atik 314L+ por muitos anos sem ter gastos adicionais foi uma tremenda vantagem.

Mas não é só pelo equipamento que uma câmera com sensor maior traz dificuldades. A óptica do telescópio pode ser corrigida com acessórios e os filtros de 1,25 polegadas estão dando uma vinhetagem muito leve na QHY163m, facilmente corrigida por flatframes. Entretanto, uma câmera com sensor maior também sofre mais com poluição luminosa. A vinhetagem e o gradiente que recebo em meu apartamento, numa área densa em Brasília, era praticamente irrelevante com a Atik 314L+ quando com filtros de banda estreita. Com a QHY163m, eu estou tendo um pouco mais de dificuldades na hora de processar as imagens de capturas feitas em meu apartamento, mesmo capturadas com filtros de banda estreita.

Lidar com arquivos maiores também foi uma adaptação difícil pra mim. Como esperado, os arquivos de 16 megapixels da QHY163m levam mais tempo para carregar do que os de 1,3 megapixels da Atik314L+. Sim, a QHY tem entrada USB3.0, show de bola, mas os arquivos são quase 16 vezes maiores. E a porta USB3.0 do meu notebook não consegue compensar isso. Essa maior demora no carregamento dos arquivos não faz muita diferença quando já estamos registrando os lightframes, que podem durar vários minutos. Esperar dez segundos de download entre um lightframe e outro não é um grande sacrifício. Mas quando estamos fazendo os ajustes de foco, enquadramento, entre outras coisas, essa maior demora começa a desgastar a paciência. Até por que, nos softwares que utilizei, a QHY163m só faz Binning 2x2, fazendo uma imagem com ainda quatro megapixels de tamanho mesmo para uma prévia, enquanto a Atik 314L+ faz até Binning 8x8. Na hora dos ajustes de imagem eu sinto muitas saudades dos arquivos pequenos da Atik 314L+, que carregavam em um segundo.

Mas vale dizer, estes inconvenientes citados são todos devidos a uma característica superior da QHY163m. Agora os problemas verdadeiros: provavelmente por ser uma câmera com sensor CMOS, a QHY163 apresenta um tipo de defeito em imagens integradas que eu nunca vi na Atik314L+, mas já tinha percebido algumas vezes na Canon T2i e em imagens de outros astrofotógrafos que utilizaram câmeras com sensor CMOS. O resultado da integração apresenta linhas de ruídos inclinadas, como você pode perceber na imagem abaixo, crop de uma captura de NGC 6188 também feita no 10°EBA. Eu não sei o que causa isso. Não aparece em todas as imagens e é pouco perceptível. Ainda não fiz um estudo sobre este problema e se alguém quiser colaborar, sinta-se a vontade. Não é algo que destrói a imagem, mas exige um certo cuidado durante o processamento.

Repare nas linhas inclinadas para a esquerda neste crop de um lightframe da QHY163m

Mas o que tem incomodado mesmo na QHY163m é o tal do Amplifier Glow. Uma mania de sensores do tipo CMOS (a Atik usa um sensor CCD) de deixarem partes da imagem mais claras do que outras. Num primeiro momento, pode até ser confundido com vinhetagem ou gradiente na imagem, que geralmente é causada por luzes parasitas na óptica e deve ser tirado com Flat Frames. Mas é algo que está no sensor da câmera e não na óptica. Por isso, tem de ser tirado com Dark Frames. Sendo assim, pelo que tenho visto, enquanto é possível astrofotografar com uma câmera CCD como a Atik 314L+ sem dark frames, com uma CMOS, Dark Frames são obrigatórios.

Amplifier Glow (região mais clara a direita) em single frame da Nebulosa do Camarão.
O grande problema que estou tendo com o Amplifier Glow é que, com o ganho da QHY163m em zero, o Amplifier Glow sai facilmente com os dark frames, mas quando elevo o ganho para 30 (o ajuste vai até 60), o resultado da integração, mesmo com dark frames, é prejudicado. Tanto que os registros que fiz com esse nível de ganho não ficaram, digamos, publicáveis. Isso acaba tirando uma das vantagens que eu esperava desta câmera em relação à Atik 314L+, que era fazer frames curtos com ganho elevado, integrar muitos deles e conseguir imagens que só conseguiria com frames muito longos com a Atik 314L+.

Após tantos comentários negativos, pode até parecer que a conclusão foi que a QHY163m não foi um bom upgrade em relação a Atik 314L+. Mas não é o que acontece. Os problemas causados pelo sensor maior são todos decorrentes de estar usando um equipamento superior, que exige uma óptica melhor e um céu em melhores condições. É o preço que se paga por ter um equipamento de maior capacidade. Com seus 16 megapixels de resolução, a QHY163 produz imagens muito mais nítidas, com estrelas menores e maior campo do que a Atik 314L+. Quanto a seus defeitos reais. Eles são contornáveis. Darks e Flat frames podem tirar quase todos os defeitos dos lightframes. E recursos simples do Fitswork removem quase todos os problemas ópticos restantes. Sim, não estou conseguindo usar ganhos maiores, mas mesmo no menor ganho a câmera apresenta excelente sensibilidade. Além disso, ganho é algo meio relativo em astrofotografia de céu profundo, já que no fim teremos que ajustar os níveis da imagem integrada, geralmente bem escura.

Para mim, a maior prova do avanço da QHY163m em relação a Atik 314L+ está no fato de que estou finalmente produzindo meu primeiro livro de fotos e basicamente todas as imagens que eu fiz com a QHY163m substituíram registros feitos com a Atik 31L+, por apresentarem fotos mais bonitas e ficarem melhores no formato A4 que o livro vai ter. E olha que em muitos casos foram registros com a QHY163 que tinham uma fração do tempo de exposição da Atik 314L+, como o do Aglomerado Globular NGC 5139, no alto deste post. Isso mostra que o upgrade valeu muito a pena.

Mas a QHY163m não vai me fazer vender a Atik314L+. Se a foto da QHY163m fica mais nítida e bonita que a da Atik314L, quando olhamos os objetos mais de perto e analisamos os detalhes capturados pelas duas câmeras, a Atik314L+ me parece ser capaz de uma imagem mais definida. Para galáxias de menor campo, que caibam com sobras no sensor desta câmera, acho que a Atik 314L+ permanecerá imbatível.

Onde a QHY163 me parece surpreender mais é nas imagens em RGB. Imagens em cores naturais nunca foram o ponto forte da Atik 314L+ e eu já estou começando a ficar um pouco saturado de imagens em Hubble Palette. Então, no próximo EBA devo tentar explorar ao máximo a capacidade da QHY163m e focar em objetos diferentes das nebulosas de emissão, como galáxias, campos estelares, nebulosas escuras ou de reflexão. O resultados de amigos que estão utilizando esta câmera para fotos RGB têm mostrado isso.

Este é um post baseado em opiniões pessoais, de quem está constantemente aprendendo. Por isso, não se assuste se, no futuro, algumas opiniões mudarem. Pode acontecer de, por exemplo, que eu consiga resolver a questão de usar ganhos elevados com a QHY163m, o que seria muito interessante.


Nebulosa da Lagosta registrada no EBA de 2017, com a QHY163m em refrator de 102mm

Nebulosa da Lagosta, registrada com a Atik314L+, com o mesmo telescópio refrator.


sábado, 16 de setembro de 2017

A Árvore e a Galáxia

A Árvore é a Galáxia.
Frame único de 80 segundos em ISO 3200.
Câmera Canon T2i
Lente EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM
 .


Eu não faço muito astrofotografia de frame único, de composições da Via Láctea com paisagens. Geralmente isso ocorre por falta de tempo (estou com a câmera numa montagem, preferindo Wide Field com muitos frames) ou por que acho que câmeras com sensor cropado, como a minha Canon T2i (550D) não são as mais adequadas para o serviço, sendo preferível, câmeras com sensor Full Frame, como a Canon 6D, um de meus sonhos de consumo.

Mas a imagem que você veem acima me deixou  mais animado quanto a capacidade de astrofotografia com paisagens de minha Canon T2i, ainda mais neste momento que não tenho uma montagem portátil para levar para eventos e viagens e fazer Wide Field, depois que vendi o Ioptron Skytracker. O desempenho, principalmente num ISO tão levado (3200), me surpreendeu para esta câmera num único frame.

A imagem na verdade foi feita para a composição de um star trail, mas eu cometi um erro, o intervalo entre os frames ficou mais alto do que deveria. Isso aconteceu por que a lente usada, com 10mm de distância focal, tem um campo muito grande e se as estrelas próximas ao Polo Sul andam muito pouco, as da linha do equador andam muito mais rápido. O resultado foi que as estrelas da parte de cima da imagem ficaram picotadas, ficando a imagem de frame único melhor do que o Star Trail.

sábado, 9 de setembro de 2017

Finalmente o eclipse total do Sol

Meu primeiro Eclipse total do Sol - Composição de duas capturas com a lente de 200mm, uma com 1/250 e outra com 1/1600 de exposição, as duas em ISO 100.

Um eclipse solar total é considerado por muitos o evento mais dramático que o céu pode nos proporcionar. Então, para um amante da Astronomia como eu, presenciar um eclipse total já era um sonho antigo, mas ver um evento destes não é fácil. Eles são raros, são visíveis em faixas estreitas e duram muito pouco tempo. Por isso, eu cheguei à beira dos quarenta anos sem ter presenciado o evento.

Na verdade, quem deseja assistir à um eclipse solar total deve aceitar que é preciso viajar. E foi o que fiz. Para acompanhar o eclipse total de 21 de agosto, comprei uma passagem Brasília-Los Angeles e, junto com um amigo, dirigimos até o estado do Wyoming, nos Estados Unidos, para acompanhar o eclipse na pequena cidade de Shoshoni, mais exatamente no Boysen State Park, um pequeno parque, cuja atração principal é uma represa, próximo à cidade.

O local estava bastante cheio. Na verdade, o trânsito para os locais do eclipse estava um loucura. Era legal ver o interesse das pessoas pelo evento celeste. Era um clima que me lembrou quando fui assistir jogos da Copa do Mundo. Mas a torcida aqui não era pela vitória de um time, mas para que as nuvens, que estavam bastante assustadoras nos dias anteriores, dessem um sossego na hora do evento. Felizmente o time da casa venceu de goleada, e o eclipse aconteceu com o céu absolutamente aberto. Não podia ter sido melhor.

Para registrar o eclipse, levei a minha querida lente de 200mm F2.8 da Canon, a câmera DSLR Canon T2i e um tripé, sem qualquer acompanhamento motorizado. Também levei um filtro da Baader improvisado no parasol da lente. Como seria meu primeira eclipse total do Sol e a totalidade não duraria muito mais do que uns dois minutos, eu estava bastante tenso. 

Algo interessante a se saber é que, num eclipse solar total: você deve utilizar filtro específico para o Sol durante o período em que a Lua está se colocando à frente da estrela, mas no momento em que ela cobre o disco solar por completo, o filtro deve ser retirado. Foi aí que cometi o meu maior erro. Eu sabia que o filtro tinha que ser retirado no momento do Eclipse, só não lembrei de que, com a retirada do filtro, o ponto focal da lente muda, tirando a nitidez do registro. Felizmente, eu percebi isso alguns segundos depois, mas perdi algumas fotos que teriam ficado interessantes. Depois fiz algumas fotos com tempos de exposição variáveis. Estourei "um pouco" a coroa, mas fiz bons registros das proeminências solares, aquelas que vemos com filtros H-alpha solares caríssimos, mas que durante o eclipse aparecem até para câmeras DSLRs sem filtros. Esta é a imagem do início do post.

Os dois minutos de totalidade me pareceram ter durado uns quinze segundos, tamanha a tensão que eu estava. Ainda assim, após conseguir algumas imagens com a lente de 200mm, coloquei a lente 10-22mm e tentei uma panorâmica do Eclipse. Esta é a imagem que você veem abaixo:

Eclipse registrado com lente 10-22mm em 13mm. Podemos ver um pouco do parque onde fiquei durante o evento.
Registro "levemente" estourado da Coroa Solar. Ainda assim, é interessante percebermos a presença da estrela Régulo, da Constelação do Leão, próxima ao Sol (às sete horas)

Aguardando a totalidade. Foto feita com Celular.


O equipamento utilizado, com o filtro no parasol da lente.